Monja portuguesa confirma constantes ataques contra bairros cristãos em Damasco

A Irmã Myri, a jovem religiosa portuguesa que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara, na Síria, perto da fronteira com o Líbano, confirma, em declarações enviadas recentemente para a Fundação AIS, que persiste o clima de guerra na região de Damasco, com ataques frequentes contra a comunidade cristã.

Maria de Lúcia Ferreira, que irá fazer 38 anos em Maio e que pertence à Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia, e que é conhecida simplesmente como Irmã Myri, afirmou, na mensagem enviada para a Fundação AIS, que os combates “incidem sobre bairros habitados por cristãos” na região de Damasco e que são o resultado do esforço do exército sírio para libertar por completo a região de milícias armadas.

Perante o avanço das forças de Damasco – acrescenta esta religiosa portuguesa – “os jihadistas lançam roquetes, e bombardeamentos sobre os vários bairros” em torno da capital. Muitas vezes, reconhece a Irmã Myri, esses bombardeamentos “provocam mártires, mas, de vez em quando, há milagres”.

Na sua mensagem, a religiosa conclui que “a situação na região de Damasco não é muito boa, pois o governo tem procurado avançar sobre as áreas ainda sob o controlo do ISIS (o auto-proclamado ‘Estado Islâmico’) ou de outras milícias”, especificando que esses combates têm ocorrido “sobretudo na região este e um pouco ao sul” da cidade capital da Síria.

Segundo a Irmã Myri, há registo de ataques pelos menos nos bairros de Jobar, Al Midan, Jaramana, Dwel’a e Bap tuma.

Estas declarações ocorrem na mesma altura em que o Cardeal Mario Zenari, Núncio Apostólico em Damasco, em entrevista concedida ao jornal L’Osservatore Romano, descreve também um ambiente de guerra e de caos na região de Damasco.

Segundo este prelado, a Síria é ainda um “campo de batalha”, que compara a um “dilúvio de fogo” que está a criar uma situação insustentável para a população civil. “Nestes últimos dias, é preciso estar atento inclusivamente para se sair de casa”.

O cardeal descreve também zonas da cidade de Damasco em que os combates estão a condicionar fortemente a vida das pessoas e “há realmente muito medo”, a tal ponto que “muitos pais decidiram não mandar mais as crianças para a escola”.

O Cardeal Zenari afirma ainda, na entrevista ao jornal oficial do Vaticano, que “os dias passam sob as bombas e entre o fogo cruzado” e que, em consequência disso, “as ajudas humanitárias” só chegam “a conta-gotas”.

Na sua descrição revela-se um ambiente dramático. “As pessoas sobrevivem cozinhando sopas feitas com as folhas das árvores, de ervas. É impressionante. Além das bombas e dos disparos, as pessoas não têm o que comer. As imagens são terrificantes.  Cerca de 70% da população síria vive em condições de extrema pobreza.”

Já no final de Janeiro, a Fundação AIS dava conta de bombardeamentos que atingiram a capital síria e que provocaram, então, pelo menos nove mortos e dezenas de feridos.

Nesses bombardeamentos, que visaram também zonas historicamente cristãs, algumas igrejas foram atingidas, tendo sido danificado seriamente o edifício da catedral. Dias antes, o Arcebispo Maronita D. Samir Nassar escapava milagrosamente a um bombardeamento quando um morteiro caiu no seu quarto, de onde se tinha ausentado instantes antes.

Estes novos combates na capital da Síria têm passado despercebidos na Imprensa internacional como se o conflito bélico estivesse já sanado.

O Núncio Apostólico em Damasco lamenta que assim seja. Na entrevista ao jornal do Vaticano, o prelado reconhece que a derrota do auto-proclamado “Estado Islâmico” significou apenas a erradicação de parte do problema, pois “todos os que estão presentes no país com bandeiras, homens e armas não têm um acordo entre si”.

E acrescenta: “Há uma espécie de todos contra todos… Não se pode esquecer a Síria! Estamos a viver um momento muito grave. Os esforços diplomáticos das Nações Unidas na busca de acordos devem ser amparados. O mundo não deve esquecer este sofrimento. Um sofrimento que atinge sobretudo os civis e, de modo especial, as crianças.”

Também o Papa Francisco voltou a lembrar a situação extremamente complexa que se vive neste país, ao incluir “a amada Síria” na jornada de oração e jejum que convocou para o próximo dia 23 de Fevereiro, jornada que, inicialmente, se destinava à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, como exemplo de países que sofrem por causa da guerra.

Na mensagem que enviou agora à Fundação AIS, também a Irmã Myri pede, face à gravidade da situação que se vive na região de Damasco, “a oração de todos”.


Foto © DR | Veja a situação da liberdade religiosa nSÍRIA no RELATÓRIO SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA

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Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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